A moda da pílula mágica não passa, porém ganha sempre novos discursos e roupagem. Hoje o discurso é mais “científico” e ganha até caráter de acompanhamento médico. Eu estou falando do uso indiscriminado de reposição de testosterona. Os erros e riscos acontecem desde a forma da dosagem hormonal até a prescrição. Esse alerta não é novo, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) lançou em 2018 um documento sobre os efeitos do abuso de testosterona em homens e mulheres. Junto a isso, outros pesquisadores vêm falando e endossando informações sobre os efeitos ruins dessa moda de uso de esteroides anabolizantes.
A aterosclerose prematura é um dos efeitos do uso de reposição de testosterona, e pode causar infartos e AVCs precoces — Foto: iStock Getty Images
Para pessoas sem hipogonadismo, os riscos para o coração superam benefícios como a hipertrofia muscular. Afinal, a testosterona em níveis acima dos fisiológicos causa desequilíbrios nas paredes dos vasos sanguíneos, na pressão arterial e em mecanismos metabólicos de coagulação do sangue, além de promover elevação do colesterol.
Mas quais são os efeitos cardiovasculares do uso de testosterona?
- Hipertensão arterial;
- Hipertrofia de ventrículo esquerdo;
- Dislipidemia;
- Arritmias;
- Trombose arterial e pulmonar;
- Aterosclerose prematura, causando AVC e infarto precoces;
- Morte súbita.
Todos esses efeitos são explicados artigos em artigos científicos como um publicado em 2017 no World Journal of Cardiology e outro de 2012, do British Journal of Sports Medicine. Além desses estudos, várias sociedades médicas e conselhos apoiam um site muito interessante chamado Bomba Tô Fora, produzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e da Universidade de Caxias do Sul (UCS), em que se discute de forma séria e embasada sobre o tema e colocam informações sobre o efeito prejudicial do uso dessas medicações, além das pesquisas realizadas na área.
Existe uma corrente médica que usa tal reposição como uma estratégia para ganho de massa, melhora do sono e qualidade de vida, mas acredito que não tenham contado com esses detalhes antes de iniciarem a reposição de testosterona. Caso, ainda assim, proponham a medicação, pergunte dos estudos, leia os estudos. E é importante deixar claro que essa reposição é considerada doping para atletas.
Fonte: Mateus Freitas Teixeira – Cardiologista do Vasco da Gama, é diretor da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro e coordenador médico da Clínica Fit Center.