Depressão entre jogadores de futebol. O assunto veio à tona com o pedido de afastamento do jogador Nilmar, do Santos. Diagnosticado com a doença, não por acaso, mas porque teve acesso a um profissional de psicologia. O caso revela uma exceção no futebol brasileiro. Entre os 20 clubes da série A do Brasileiro, apenas cinco têm psicólogos dedicados exclusivamente ao time profissional. Atlético-PR, Flamengo, Santos, São Paulo, Sport e Vasco são as equipes que mantêm trabalho contínuo e diário com psicólogos. Os profissionais participam da rotina e de praticamente todas as conversas do grupo. Fazem relatórios, têm conversas individuais e recebem encaminhamentos feitos pelas comissões técnicas. Os jogadores não são obrigados a conversar com os profissionais, mas têm à sua disposição um ambiente propício ao tratamento, sempre que precisam.
DEPRESSÃO ATINGE UM TERÇO DOS JOGADORES DO FUTEBOL EM ATIVIDADE
– O percentual de jogadores que sofrem de problemas de saúde mental aumentou ligeiramente, mas o resultado principal é que este último estudo confirma o anterior de que os jogadores profissionais são propensos a relatar os problemas durante ou após a sua carreira. Todas as partes interessadas no futebol profissional precisam ser mais conscientes sobre os problemas de saúde mental que possam ocorrer no futebol profissional – afirmou Vincent Gouttebarge, médico que coordenou a pesquisa.O estudo do FIFPro também mostra que há uma correlação entre lesões sérias e depressão. Atletas que tiveram três ou mais contusões graves estão entre duas e quatro vezes mais propensos a sofrer com esses problemas.
– É crucial estabelecer um grupo de trabalho sobre esse importante tema. Os resultados do estudo justificam uma abordagem multidisciplinar para um jogador de futebol gravemente lesionado. Após a cirurgia, o médico responsável e o cirurgião ortopédico devem estar cientes da possível ocorrência de sintomas de problemas de saúde mental que podem acompanhar estes tipos de lesões – destaca Gouttebarge.
O médico reconhece que os clubes são muito focados na saúde dos jogadores a curto prazo, “a fim de capacitar os atletas para o desempenho em campo”. Mas ele acredita que os clubes poderiam dar mais atenção aos jogadores para evitar que eles sofram destes problemas no futuro.
– Uma das principais medidas para prevenir a ocorrência de problemas de saúde mental no longo prazo (por exemplo, depois de sua aposentadoria), é ter atenção na fase inicial do planejamento da carreira. O clube poderia dar mais atenção para a educação adequada dos jogadores – afirmou.
DISTÚRBIOS DO SONO E ESTRESSE
Além de depressão e ansiedade, 23% dos atletas e 28% dos ex-atletas disseram sofrer de distúrbios do sono. Outros 15% dos atletas e 18% dos ex-atletas reportaram sofrer com problemas de estresse. Problemas como abuso de álcool foram relatados por 9% dos jogadores e 25% dos ex-atletas. O consumo de cigarro ocorre entre 4% dos atletas e 11% dos ex-atletas.

Capa do estudo do FIFPro – Reprodução / Reprodução
Na pesquisa anterior, o número de jogadores fumantes era de 7%, enquanto os que apresentavam problemas com álcool era de 19%. Gouttebarge acredita que a diminuição dos números tem relação com um maior cuidado dos atletas com a saúde.
– Podemos dizer que o estilo de vida dos jogadores melhorou. Me parece que alguns aspectos do estilo de vida dos jogadores são especialmente algo para se concentrar quando um jogador se aposenta.
A pesquisa contou com dados fornecidos por jogadores de Bélgica, Chile, Finlândia, França, Japão, Noruega, Paraguai, Peru, Espanha, Suécia e Suíça. Dos entrevistados, 55% passaram a maior parte da carreira atuando no mais alto nível. O mesmo aconteceu com 64% dos ex-atletas.
– Esperamos que o estudo aumente o alerta e o compromisso de todas as partes interessadas no futebol a colocar medidas de apoio em prática, então estes que sofrem de problemas mentais irão saber que não estão sozinhos – afirma Gouttebarge. – O presente estudo é um primeiro passo necessário e, em última análise, propõe medidas preventivas e de apoio adequadas destinadas a proteger e capacitar a saúde sustentável de jogadores e ex-jogadores.